domingo, 2 de janeiro de 2011

Sobre um amigo


Logo que voltei para esta cidade, comecei a trabalhar em Campinas e diariamente eram três ônibus para ir e três para voltar. Nesse trajeto, conheci um homem de cabelos brancos, que pegava as mesmas conduções, pois mora no mesmo bairro que eu e trabalha no mesmo bairro onde eu trabalhava.
Aqui vou chamá-lo de Carlos.
E Carlos seguia sozinho, apesar de sua deficiência visual, e em algumas situações pedia ajuda de quem estivesse perto. Eu, observando e estando sempre próxima, me ofereci a ajudar, foi quando descobri que não sabia como conduzir um cego. Segui algumas orientações de Carlos e acho que aprendi. Foi nascendo uma amizade e fui conhecendo e me deixando conhecer aos poucos.
Totalmente cego, Carlos me abraçava muito, pegava muito e eu não sou acostumada com pessoa que fala pegando na gente, sabe? - Resolvi que queria me distanciar de Carlos por esse motivo, mas a decisão durou pouco pois, senti falta de nossas conversas.
Pensei sobre o assunto e resolvi deixar Carlos me abraçar, beijar, dar as mãos e o respeito nunca faltou. Questão resolvida já não me incomoda mais. Viajei ainda muitos dias com Carlos até que me desliguei da empresa e já não o vejo com a mesma frequência, mas nos vemos ainda nos ônibus, nas ruas, por telefone e email.
Carlos é um cara divertido, bom de conversa e super amigo. É um exemplo de vencedor, que supera dificuldades diárias para construir uma história de dar orgulho. É meu exemplo. E a empresa onde trabalha é um exemplo a ser seguido também pois lhe fornece equipamentos e condições para que Carlos desenvolva o seu trabalho.
Muitas vezes, quando vou conduzí-lo por essas ruas cheias de obstáculos, conversamos tanto e algum obstáculo me escapa como se por um momento me esquecesse de sua deficiência.
Carlos reconhece os amigos que fez nesse caminho pela voz de cada um e questiona a emoção que transmitimos pela voz e tem muita experiência de vida para passar ou trocar. Carlos é um amigo que eu quero ter para sempre!

Nenhum comentário: