sábado, 28 de maio de 2011

Diga-me que música ouves...

Fui caminhar com a Luana. Essas manhãs frias não favorecem mas meu médico quando me vê, antes mesmo de cumprimentar me pergunta se estou fazendo caminhada, então deve ser mesmo necessário.
Confesso que está cada dia mais complicado sair de casa a pé, pois os perigos da rua são muitos. Consigo ver um tempo em que será distante a lembrança de quando, com 7 anos eu ia para a escola sozinha, pois as crianças não saberão o que é isso. 
Mas voltando à caminhada de hoje, logo uma quadra adiante vi um homem muito esquisito que me encarou e que observava atentamente as casas através de suas grades abertas. Luana me dá certo apoio nessas caminhadas porque ela não permite que pessoas estranhas se aproximem de mim.
E seguimos até o parque. Lá embaixo caminhávamos tranquilamente na medida do que é possível ser tranquilo hoje em dia quando ouço uma música vinda de um celular atrás de mim:
"Ah, meu Deus do céu, como é bom ser traficante. Ah, meu Deus do céu, como é bom ser assaltante!"
Gelei. Nem precisava dizer, não é? Olhei para trás, vi um moleque do meu tamanho mas menor de idade, com certeza. Também este ser estranho não mexeu comigo, mas eu já sabia muito a seu respeito. Sentou-se num banco um pouco mais distante dali enquanto continuei meu caminho de volta.
Imediatamente, eu que estava com outra música na cabeça, guardei aqueles versos e vim aqui no mr. Google pesquisar. Não vou compartilhar esse vídeo com vocês porque não tem muito a ver comigo e não quero isso no meu blog, mas a partir de então comecei uma reflexão sobre a vida, mais precisamente sobre o meu e o nosso futuro próximo. Como diria o Datena - "o bem ainda é maioria", mas até quando? Existe aí, um lado obscuro da sociedade, que cresce às margens e que não dá mais pra fingir que não existe. São pessoas em sua essência cruéis, que não tem nada a perder porque para estes a vida não representa nada.
Cada um, à sua maneira, desenvolve uma forma de viver e se proteger. Aqui mesmo, um bairro simples conta com vigilantes particulares, o que torna o bairro um pouco mais tranquilo mas não isento de furtos e roubos.
O Brasil é um país muito extenso em dimensões territoriais. Acredito que só vai ficar um pouco melhor no dia em que for dividido em dois ou três, porque no geral o governo parece muito aquele casal que divide a cama com cobertor de solteiro, então cobre um e descobre o outro a noite inteira e assim sendo, não dá conta de dar escola, segurança e saúde para a população, aquilo que é considerado essencial, sem falar na infra-estrutura e transporte.
Neste país, as poucas oportunidades para pessoas como eu, são arrancadas da vida à fórceps. Nada é fácil e tudo requer esforço e dedicação, sapiência eu diria. Não consigo imaginar como manter otimista uma pessoa que não se alimenta, não mora e não estuda adequadamente. Onde podem essas pessoas buscarem suas oportunidades? Me diz porque eu não sei. Então é assim, e a desigualdade é gritante, mas quem já tentou ajudar sabe como é difícil ajudar essas pessoas sem perspectivas e como é difícil fazer com que mudem de opinião perante a vida. 
Mas enfim, eu só quis compartilhar que, embora estejam fazendo na cidade um propaganda de baixa criminalidade, a verdade está na rua, em frente a nossa casa. Acredite você no que quiser, a sensação é horrível. Salve-se quem puder.

Um comentário:

BiaFreitas disse...

É Flavia, infelizmente isso que você ^presenciou é o que todos, no muno todo , presenciam . Eu tenho a certa esperança de que, muito em breve, tudo isso será resolvido ! Mas não serão homens imperfeitos e egoístas que farão isso ; é preciso alguém Maior, inteligente e amoroso!